sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os olhos de Alice


Postado por Carla Wanessa

Seria muito dificil falar de Alice...Alice era muitas...era Maria, era Rosa, era Jose, era Beatriz, era Sheylla...mil mulheres em uma, uma mulher em milhares, apenas mais uma, mas ao mesmo tempo única.

Alice aprendeu muito cedo que a vida é dura. Apesar de desejar ardentemente por afagos, Alice se acostumara a nao ser vista. Nao era dificil pra ela se ver em situações onde nada representava ou onde era importante a ponto de ser agredida.

Nunca gostou muito de seu lado mulher, porque o seu lado mulher já havia lhe custado caro, já havia lhe dado medo, já havia lhe feito sentir exposta, desprotegida, insegura....invadida. No entanto Alice sempre gostou de olhos azuis....azuis como os mares que lhe faziam sentir livre, azuis como os olhos de sua mãe que nunca viu olhar olhar pra ela.

Seu facinio pelo azul lhe causava grande confusão...era o azul da cor, o azul do brilho, o azul do amor, o azul da raiva, o azul do desrespeito...azul passou a significar o caos e Alice sempre esteve no caos. Alice demorou a entender que nem tudo precisava rodar, chiar, pegar, grunir, gritar...Alice um dia conseguiu ver o lado de fora e se encantou com a paisagem. Apesar de estar sempre em ventania, um dia, sem querer, Alice viu o marasmo, a simplicidade, o silencio, a quietude...

Alice quis tanto sair do caos. Lutou com todas as suas forças e de todas as formas. Tentou voar contra, tentou ser levada, tentou fechar os olhos, tentou nao olhar pra tras...mas nada tirava Alice do caos. Até o dia em que se deparou com o amor. Alice nao sabia o que era amor. Achou muito estranho aquela coisa morna, doce, singela...era muito parecido com o lado de fora, que tanto desejara e lutara pra viver, mas Alice nao sabia o que fazer com o amor.

Pobre Alice, como um bicho, Alice chegou perto e cheia de medo, tentou cheirar pra ver que cheiro tem o Amor...Alice quis por a mão, quis tocar com os olhos, mas nao conseguia entender a falta de azul no brilho do amor...Alice sem saber como dialogar com aquilo, fez como sempre fez em sua vida...gritou muito, tagarelou, pulou e chiou pra ver se o Amor saia dali ou deixava de existir...nada funcionou. Alice se aquietou e ficou...Ainda hoje, pode-se ver Alice ali sentada...esta do lado do amor, olhando pra ele atonita...há dias que Alice está assim.

Há quem diga que Alice nunca mais sairá de lá, mas que pobrezinha, nunca, nunca conseguira entender o que vê...há quem diga que um dia Alice levantará e num salto profundo, se jogará devolta ao seu caos vital...mas há ainda, os que acreditam que Alice um dia perceberá que a luz que vê é um reflexo do espelho que está a sua frente e que o amor que tenta entender é um pedacinho dela, que a permite viver....

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