quarta-feira, 11 de agosto de 2010



Na casa de Adamastor, se falava pouco. As pessoas conviviam muito mais com seus pensamentos do que com os que ali moravam. Era uma casa onde não se dizia nem mesmo com olhares.

Uma família pequena. Quatro pessoas preenchiam a mesa do jantar. Quatro pessoas preenchiam a mesa no café. Quatro pessoas, apenas quatro pessoas. No início, antes de serem quatro, haviam muitos sonhos de fartura...pensavam em fartura de dinheiro, de comida, de risos, de palavras...pensavam que seria uma grande festa de fartura...mas não foi o que aconteceu. Quando se tornaram quatro, sem que se pudesse perceber, aquela fartura de cores dos sonhos foi empobrecendo e se tornando branco, preto e vários tons de cinza. No fundo, no fundo se vivia em preto e branco, como num filme antigo, cuja trilha sonora era permeada pelo chiar do gramofone.

A noite, quando em silencio se reuniam para o jantar, sentavam `a luz de uma certa penumbra, sem se darem conta que nem mesmo a lâmpada podia clarear o lugar...Nunca se ouviu gritos nesta casa. Nunca se ouviu gargalhadas e nem mesmo as brigas, que de certa forma são sinais de vida que pulsa em uma casa, nunca ninguem pôde ouvir.

Os vizinhos não estranhavam. De certa forma, eram bons vizinhos os que moravam com Adamastor. Quando saiam pra rua, sempre sorriam...nem sempre estavam juntos, porem nunca estavam tristes...eram até que bem simpáticos, mas sempre de poucas palavras.

Quando se mudaram, nínguem deu falta. Só mesmo foi possível perceber sua ausencia com o incomodo dos latidos dos cachorros e a gritaria das crianças do quintal da casa onde um dia havia morado aqueles de Adamastor. Agora se via vida neste lugar.

2 comentários:

  1. Gostei muito, muito, muito. Curto/denso/forte/verdadeiro.Eita Adamastor...
    bjus

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  2. Bom, vc sabe o quanto sua opinião é importante pra mim...Beijoooo e valeu!!! (muito)

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